quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

E assim caminha a humanidade...


Em eras virtuais...um pequeno aperto de mão, um abraço, atos corriqueiros se tornam cada vez mais distantes, onde o ser humano se torna o ser virtual. Confiram um episódio escrito pelo nosso parceiro Túlio em mais um de seus textos que refletem O Manifesto!

Data comemorativa

Sequer respondeu o bom dia do faxineiro, entrou no escritório sem falar com as senhoras da cantina, se deixou cair na cadeira macia, dessas que rodopiam e ligou prontamente o notebook o computador da empresa e deixou o smartphone                                                                                                                     a postos. As mensagens não custariam a começar a chegar. Era uma das desvantagens de ser chefe de departamento, sempre tinha que chegar primeiro que todo mundo, a exceção dos faxineiros barulhentos que nunca paravam de conversar babuinamente uns com os outros.  Os primeiros funcionários irromperam pela porta de entrada e repetiram a operação. Sequer olharam para ele, e começaram a ligar tomadas, botões, monitores, tablets... Logo o andar inteiro era um luso fusco de telas, cheio de engravatados, e cadeiras macias que rodopiavam. Tal qual um bando de mudos ninguém falava com ninguém. Só se ouvia o bater dos dedos nos teclados; tec tec tec. As mensagens logo começaram a chegar. Por email, por bate papo, por mensagens. Sentiu-se feliz. Parece que afinal ninguém se esquecera de seu aniversário. Recebeu até um fax colorido, algo que achou por demais obsoleto, com os dizeres; Muitas felicidades, muitos anos de vida. Na página online criada no dia anterior para seu aniversario, toda família compareceu, a exceção das duas tias muito velhas e do avô quase centenário, e o andar inteiro de funcionários, seus subordinados lhe desejavam parabéns, davam felizes sinais de satisfação e desejos sinceros de muita saúde, paz, alegria, essas trivialidades chatas dos aniversários. Até um bolo virtual tinha na festinha.  Sentiu-se feliz. Sinceridade é cosia difícil hoje em dia. E assim foi o dia inteiro, seus mais de 1500 amigos virtuais lhe desejavam ótima data festiva, e o saudavam como uma pessoa muito especial e prestativa, comunicativa. Sempre pronta a ouvir os outros. Recebeu emails das alçadas mais altas da grande empresa onde trabalhava. Até seu chefe que morava em outro continente lhe desejou feliz aniversário. Seu único inconveniente durante o expediente se deu durante o horário de almoço. Quis ir até um restaurante, desses mais caros para comemorar, mas chegando lá, se embrenhou em uma luta ferrenha com um executivo de outra empresa que estava sentado  em uma mesa no canto perto do banheiro. Foi uma discussão violenta, e só cessou por causa da bateria do celular que descarregou convenientemente quando já digitava nele insultos dos mais indignos endereçados ao concorrente. Melhor assim. Terminou de comer não sabia o que, e voltou para o trabalho para receber novos emails, e tentar esquecer a briga virtual. Tudo transcorreu muito bem durante o resto do dia. Recebeu até olhares marotos da secretária que trabalhava no andar de baixo, pois passaram parte da tarde conversando pelo chat privativo. Só achou estranho, o abraço afetivo que o guarda lhe deu quando ia embora.
-Que você tenha muitos anos de vida. Disse ele.
Entrou no carro ligou o ar condicionado e partiu. Chegou em casa e foi surpreendido por uma festa surpresa, preparada pela esposa e pelo filho de 8 anos. Seus pais estavam lá para lhe proporcionar abraços calorosos e beijos na bochecha.
Ledo engano. Ele estava cansado demais, havia passado o dia inteiro sendo paparicado, e estava cansado.  Foi dormir com a cara emburrada, mas não sem antes dar mais uma checada no smartphone.

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