O post de hoje é um dos textos publicados na 5ª edição do jornal O Manifesto, escrito pelo nosso parceiro Tulio Fernando. Em ano político e diante do atual quadro político em que nosso estado de Goiás se encontra o texto é bem sugestivo, pois segundo Berthold Brecht "da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais". O texto é muito bacana vale a pena ler!!
Era uma vez, um José
Era uma vez um político. O nome dele
era José. Mas ele não era só mais um político. Ele era “O político”. Já havia
sido reeleito diversas vezes em sua cidade para ocupar seu cargo público, nada
parecia afetar sua sólida carreira. Seu partido já havia se estabelecido como o
grande mandante, não só na cidade de José o político, mas em todo o estado.
Porém, um dia uma terrível tragédia aconteceu. Fora descoberta a outra face de
José o político. De repente, várias denúncias surgiram contra José o político,
fraudes, propinas, corrupção, roubo, desvio de verbas, até um caso de estupro.
Um verdadeiro escândalo. José o político foi indiciado e preso, mas, foi por
pouco tempo. A polícia refutou as provas que existiam contra ele - não são o
suficiente! Alegavam. Então, o soltaram no mesmo dia, para responder o processo
em liberdade. Graças toda a burocracia que infesta o sistema penal e devora toda
verdade como uma traça, e graças a um arquivista distraído que teve a presteza
de “sumir” as provas contra José o político, ele não foi condenado. Com o
passar do tempo, as pessoas nem se lembravam mais do escândalo. José o político,
se aposentou da vida pública, mas, não ficou abandonado a própria sorte, recebia
aposentadoria por seus inestimáveis serviços prestados a comunidade e viveu
feliz para sempre. Do estupro não se ouviu mais falar.
Era uma vez um advogado. O nome dele era
José. Mas ele não era só mais um advogado. Ele era “O advogado”. Nunca perdera
um único caso em toda a sua vida como jurista. Austero em seus princípios. Era
conhecido, sobretudo, pela oratória impecável e pela atitude abnegada com a
qual defendia seus clientes. Gente da alta, da classe A, da elite, políticos,
empresários, fazendeiros. Porém, um dia uma terrível tragédia aconteceu. Fora
descoberta a outra face de José o advogado.
De repente, várias denúncias surgiram contra José o advogado, subornos,
corrupção, estelionato, assassinato, fraudes, até um caso de pederastia. Um
verdadeiro escândalo. José o advogado foi indiciado e preso. Mas, seus clientes
não o abandonaram, gente da alta sociedade, que eram cheios do dinheiro,
moveram céus e terras para socorrer o pobre José o advogado. Curiosamente, as
denúncias não puderam ser comprovadas. José o advogado, foi solto em pouco
tempo por insuficiência de provas. Até o caso de pederastia foi esquecido. José
o advogado não podia mais exercer advocacia, mas, não ficou desamparado
pobrezinho, seus amigos da classe A, o arranjaram um bom emprego na capital, onde
poderia fazer muitos “servicinhos” convenientes. Com o passar do tempo, as
pessoas nem se lembravam mais do escândalo. Um belo dia, foi até homenageado em
sessão pública solene por suas inestimáveis habilidades como, causídico, e
viveu feliz para sempre.
Era
uma vez um empresário. O nome dele era José. Mas ele não era só um empresário.
Ele era “O empresário”. Fizera de sua empresa a maior da região. Faturava
milhões e milhões com seu jeito ousado de fazer negócios, e por ser um
melindroso empreendedor. Porém, um dia uma terrível tragédia aconteceu. Fora
descoberta a outra face de José o empresário. Várias denúncias foram dirigidas
contra ele, falsidade ideológica, exploração, sonegação de impostos, corrupção.
Até um caso de assédio sexual e outro de pedofilia. José o empresário foi
indiciado e preso, mas foi por pouco tempo. José o empresário tinha muitos
amigos na política, além, de um destemido advogado, indômito ao exigir a justiça
e evocar a constituição. As denúncias foram rechaçadas, não foram encontradas
provas suficientes para incriminá-lo, e curiosamente os delatores de seus
crimes revelaram estar enganados, e que não se tratava deste José, mas, sim de
outro qualquer. Assim, a justiça o liberou, pode voltar a exercer seu oficio
com destemida devoção. Com o passar do tempo, as pessoas nem se lembravam mais
do escândalo. Um belo dia, foi até condecorado com a medalha do mérito
legislativo por seu dinamismo empresarial.
E viveu feliz para sempre.
Era uma
vez um lavador de chão. O nome dele era José. Mas ele não era só um lavador de
chão. Ele era “O lavador de chão”. Nunca se vira na face deste mundo guerreiro
de vassoura e rodo na mão com habilidade comparável a de José o lavador de chão.
Destacava-se na empresa onde trabalhava, lavando o dobro das salas que os
outros lavadores e em metade do tempo que os outros gastavam. Pai de família
sem igual pagava com muito custo um curso de língua estrangeira para o filho
mais novo e acalentava sonhos ambiciosos para o filho mais velho. A filha
impúbere tinha a descomunal habilidade da leitura, além de ajudar nas tarefas
de casa. Um dia, José o lavador de chão, estava assistindo o jornal, e entre as
notícias do esporte e a previsão do tempo, viu que um conhecido político de sua
cidade, foi preso, acusado de vários crimes, mas, por não haver provas
suficientes haviam-no soltado. José o lavador de chão não se aguentou. Aquele
político se apoderou do dinheiro dele, o dinheiro dos impostos que pagava,
portanto, aquela situação não ficaria assim. José o lavador de chão, reuniu
alguns outros moradores e foram protestar na rua. Sua filha dissera que segundo
uma tal constituição, tinham o direito de exercer sua cidadania. E foi o que
fizeram, mas, uma terrível tragédia aconteceu. José o lavador de chão foi
preso, acusado de perturbação da ordem. Não foi tudo, o político o acusou de
uma série de crimes, até de estupro. O advogado que defendia o político o processou
por desacato a autoridade, e por ser um pederasta enrustido. O dono da empresa
onde ele trabalhava o despediu por justa causa, e disse que não queria pedófilos
trabalhando em sua empresa, e ainda, teve a audácia de dizer que José o lavador
de chão, nem era tão bom empregado assim. Um verdadeiro escândalo, as pessoas
nunca se esqueceram de José o lavador de chão e do quão vil era o seu caráter.
Afinal, a justiça é igual para todos (é?), e
ela foi feita (foi?), José o lavador de chão foi condenado por ser um terrível
criminoso (e era?), sem direito a fiança, teve de cumprir a pena em regime
fechado, e sua família... Não viveu feliz para sempre.
muito bom retrata o que realmente acontece.
ResponderExcluirEu prefiro nem comentar... qualquer acrescimo seria desnecessario ao texto...
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